foto de 1876 ....
A história de Caxias do Sul, um dos principais municípios do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, começa oficialmente com a colonização italiana na região, que ocorreu a partir de 1875. No entanto, ali habitavam desde tempos remotos tribos indígenas, que foram desalojadas para dar lugar aos colonos europeus. O início do povoamento foi naturalmente difícil, sendo uma área de espessa mata virgem. No entanto, com bastante celeridade o mato foi aberto e as primeiras lavouras e criações começaram a dar fruto. Em 1890 comércio já florescia e as indústrias começavam a se multiplicar, e o primitivo povoado, na época distrito de São Sebastião do Caí, já dava mostras de pujança suficiente para ser emancipado, tornando-se uma vila governada por uma Junta provisória, e logo por um Conselho Municipal e uma Intendência.
As primeiras décadas do novo município foram turbulentas. Os grupos de colonos procediam de várias regiões da Itália, alguns até de outros países, e tinham visões de mundo e interesses muitas vezes conflitantes. Ao mesmo tempo, o contexto político estadual era agitado por constantes disputas ideológicas e partidárias, que repercutiam na zona colonial. Ocorreram muitos episódios de violência e desentendimento, e a estrutura de poder se revelou instável. No meio das disparidades, a religião católica, comum a todos, revelou-se um poderoso elemento aglutinante, através do qual convergiram as diferentes correntes para o atingimento de propósitos coletivos, adquirindo a Igreja uma grande influência nos destinos da cidade por muitas décadas à frente.
No início do século XX a sociedade já se havia estruturado, as dificuldades iniciais tocantes à sobrevivência haviam sido superadas, e começava a se formar um sólido corpo cultural através da atividade de artistas, intelectuais, jornalistas e outros agentes, surgem cinemas e já se ouvem na cidade óperas e concertos sinfônicos. São fundados vários clubes sociais, recreativos e esportivos, o ensino se aprimora, o núcleo urbano cresce rapidamente e é embelezado por monumentos e edificações de estilo, a infra-estrutura urbana ganha corpo, a indústria e comércio estão solidamente alicerçados em uma rede de cooperativas e associações, e a zona rural desenvolve grande produtividade, começando uma fase de importantes exportações de uma variedade de produtos in natura e beneficiados. No âmbito político a disputas continuam, embora as crises sejam menos frequentes e menos dramáticas. O resultado deste período é a formação de uma cultura local diferenciada e original, num amálgama de elementos italianos e brasileiros, onde a consciência de uma herança da antiga civilização italiana e o progresso conquistado se tornam motivo de orgulho e autoafirmação.
Com a instauração do Estado Novo o governo federal impõe um rápido abrasileiramento da região e começa um processo de repressão e supressão dos indícios da italianidade. O desenraizamento cultural compulsório gerou uma profunda crise de identidade para os locais, que só começaria a ser superada na década de 1950. Neste ponto Caxias já se tornara uma das cidades mais importantes do estado, com uma economia forte e diversificada e uma cultura em franco alargamento. O mundo colonial ficara para trás. O crescimento da cidade começava a atrair migrantes da zona rural e de outras partes do estado em buscas de novas oportunidades, e ao mesmo tempo começam a surgir os problemas típicos das cidades grandes, com uma forte estratificação social e desigualdade de renda, e o Poder Público começava a ter dificuldade de atender as demandas que se multiplicavam com crescente rapidez em termos de habitação, saneamento, educação, saúde e outros. Desde então o ritmo do crescimento só acelerou, com seus aspectos positivos e negativos, e sua população, com um contínuo afluxo de grandes grupos de origens diversificadas, se tornou altamente heterogênea, deixando os descendentes dos italianos em minoria. Hoje Caxias do Sul tem mais de 470 mil habitantes, e é uma das grandes cidades brasileiras. Muito do seu passado se perdeu pela dissolução de antigas tradições, pela demolição da maior parte do seu acervo arquitetônico primitivo, pelo cosmopolitismo que hoje impera, mas um grande grupo de pesquisadores se empenha em estudar a história local e preservar o que ainda resta de testemunhos materiais e imateriais desta história, e as instituições oficiais começam a perceber a importância de resgatar a memória coletiva através de museus, arquivos, tombamentos e fomento de atividades culturais que revisitam o passado e tentam integrá-lo ao presente.