Texto e Fotos: Jurandir Lima*
Falar de Visconde de Mauá não é novidade nenhuma para quem aprecia um fondue, truta ou até mesmo uma típica comida caseira na Serra da Mantiqueira. Já a travessia off-road saindo de Visconde de Mauá até chegar ao Pico das Agulhas Negras, em Itamonte (MG), é um roteiro totalmente desconhecido e poucos foram os off-roaders que conseguiram realizá-lo.
Visconde de Mauá é uma área de proteção ambiental localizada na Serra da Mantiqueira envolvendo os municípios de Itatiaia e Resende (RJ) e Bocaina de Minas (MG). A região é rica em florestas, rios e cachoeiras compondo uma beleza cênica entre vales e montanhas com altitude variando entre 1200 e 1400 metros. As estações climáticas são bem definidas com os verões amenos e invernos secos - clima mesotérmico ou clima tropical de altitude. A temperatura média anual gira em torno de 20ºC fazendo com que Visconde de Mauá tenha um clima bastante agradável durante todo o ano.
Conta-se que no início do século XX, o governo implantou um núcleo de colonos com o objetivo de cultivar as terras da região. Devido às dificuldades da época, o projeto não prosperou. Por volta de 1930, os colonos alemães remanescentes passaram a convidar amigos para conhecer o local e assim deu-se início ao processo turístico tornando-se a mais importante orientação econômica de Visconde de Mauá. Os visitantes chegavam a pé, a cavalo ou em carro-de-boi. Na década de 70, com a explosão hippie, a região passou a ser visitada por grupos de jovens que fizeram o marketing por todo o país como sendo o lugar ideal para "curtição de paz e tranquilidade".
Hoje, no começo do terceiro milênio, Visconde de Mauá possui extensa estrutura turística com diversas opções de hospedagem e restaurantes que variam da comida caseira à internacional. O ar puro, a beleza e o clima agradável tornam a região uma ótima opção para roteiros ecológicos na prática de caminhadas, cavalgadas, mountain biking e off-road. Para quem aprecia a vida noturna é bom saber que vários restaurantes oferecem música ao vivo para acompanhar o jantar ou até mesmo uma paquera. Nas lojas compra-se de tudo, a maior parte é produzida pelo artesanato local.
A travessia
A travessia foi realizada com um jipe Troller, durante dois dias. No primeiro, dedicamos a contemplação das belas cachoeiras locais.
A primeira a ser visitada foi a Cachoeira do Escorrega, umas das mais conhecidas da região. Quem a visita se transforma numa verdadeira criança escorregando em suas águas. Trata-se de um tobogã na própria pedra do rio com aproximadamente 20 metros de altura e que termina numa enorme piscina natural. Para conhece-la seguimos até o final da estrada Maringá-Maromba - localiza-se a 5,3 quilômetros do centro de Maringá. Vale lembrar que não se deve abusar da sorte nem da confiança ao escorregar pelas pedras.
Na seqüência fomos a Cachoeira Santa Clara, uma das mais belas da região. Suas águas escorrem por um paredão de pedra com cerca de 30 metros, numa queda quase vertical. Cercada pela mata fechada, torna-se lugar ideal para tomar banhos revigorantes de água cristalina. É como se fosse um ponto de parada obrigatório em Visconde de Mauá. Para encontrá-la seguimos pela estrada Maringá-Maromba até cruzar a ponte Santa Clara, percorremos 500 metros até a bifurcação e entramos à esquerda, seguimos mais 300 metros e a avistamos com toda sua exuberante beleza.
Para encerrar o dia fomos degustar a deliciosa culinária local. Jantamos no restaurante Gosto com Gosto - típica cozinha mineira com fogão à lenha - um dos melhores da vila Visconde de Mauá. Vale a pena conferir a cachaça, os doces e a linguiça de fabricação própria.
Dia seguinte, logo pela manhã, fomos conhecer a fazenda Águas Claras, local onde se praticam cavalgadas ecológicas. Situada no Vale do Alcantilado de Baixo, no município de Bocaina de Minas, a Fazenda Águas Claras é a última propriedade do vale, o que lhe confere situação ímpar como espaço privilegiado de integração com a natureza.
Após o almoço finalmente iniciamos a tão esperada travessia nas alturas. O nosso objetivo era atingir o ponto mais alto do Brasil, onde se consegue chegar com um veículo.
Partimos de Visconde de Mauá em direção a Mirantão, cruzando a Ponte dos Cachorros - 16 quilômetros. De lá, fomos ate Santo Antônio - 12 quilômetros. Este trecho é por estrada de terra batida sem maiores dificuldades e a paisagem mostra seus primeiros sinais de beleza com suas curvas íngremes e acentuadas. A partir deste local a trilha começa a ficar mais emocionante. Após vários "sobe e desce", chegamos na próxima parada que é Monte Belo - 21 quilômetros. Monte Belo, como o próprio nome diz, é um pequeno povoado com aproximadamente 30 casas, situado num vale e circundado de Montes com vistas maravilhosas. Deste local começamos a avistar o Rio Aiuruoca serpenteando entre vales e montanhas. O Aiuruoca é considerado um dos rios com a nascente de maior altitude no país - aproximadamente 2.600 metros.
Seguindo a trilha, percorremos um trecho com várias curvas e muitos animais cruzando a pista até chegar na Fragária - 11 quilômetros. Neste local, com o anoitecer, sentimo-nos totalmente perdidos, pois a trilha parecia ter sumido do mapa. Na verdade, a partir deste ponto a travessia passa a ser bem radical. Da Fragária até Serra Negra são apenas 4 quilômetros, por uma estrada absurdamente ruim. O terreno é totalmente íngreme e pedregoso, necessitando extrema perícia por parte do piloto. Em compensação, a esplêndida visão ao redor, juntamente com as belas cachoeiras do Rio Aiuruoca faz com esta estrada seja a mais excitante de todas.
A partir da Serra Negra a estrada continua subindo até a Rodovia das Flores. Esta é a estrada mais alta do Brasil - 2.400 metros de altitude. Seguindo à esquerda e por mais 6 quilômetros chegamos em frente ao Rochoso do Pico das Agulhas Negras no Parque Nacional do Itatiaia. Certamente um dos lugares de beleza cênica mais interessantes do nosso país.
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* Jurandir Lima
Formado em MBA pela Universidade de São Paulo na área de Engenharia da Qualidade Ambiental. Diretor da Trilhas & Trilhas Ecoturismo, Assessor da Presidência na Associação Brasileira de Esportes de Aventura (ABEA), colunista do sitewww.trilhaseaventuras.com.br, colunista da seção especialista em expedições do site www.planetaoffroad.com.br. Atua como fotógrafo da temática natureza e meio-ambiente há 14 anos e já percorreu cerca de 115 mil quilômetros em expedições pelo interior do Brasil, tendo realizado mais de 70 mil fotografias. Vem atuando para promover e ajudar na conservação dos ecossistemas do nosso país